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sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não

Caso não consiga ver o vídeo clicar >>>>>>>>>>>>>>>>>>> aqui



6 comentários:

Anônimo disse...

Que boa lembrança!

Esqueço-me tantas vezes dele e foi no seu tempo tão importante como o Zeca Afonso.

Morreu cedo , muito cedo!

Luís Maia disse...

Marta
Não consegui ainda encontrar, mas quem não se lembra da Lira ? Como foi bom cantá-la em Liberdade.
Tenho em vinil uma coisa linda, O Canto e as armas, toda cantada tods por ele só com poemas do Manuel Alegre.

Anônimo disse...

É verdade!

Esse não conheço.

Beijinhos

Luís Maia disse...

Marta

Se encontrar temas desse disco publico-os e depois logo me dizes se te não lembras

Anônimo disse...

Luis, queres acreditar que tive o prazer de conhecer este senhor? Que o ouvi a cantar exactamente isto, podre de bêbado?
Havia (ainda há, mas já nada como era no início) a Festa da Alegria do PCP, aqui em Braga.
Normalmente, os cantores mais velhos ficavam hospedados em casa duns amigos nossos porque o pai do nosso amigo Álvaro (que não o Cunhal, mas que também lá ficava em casa e era simpatiquíssimo!) era soberbo, homem assumidamente de esquerda e notável como ele só!
Ora, como nós (na altura ainda jovens, com 17, 18 anos) adorávamos uma boa noitada, aquela altura era fantástica.
E foi assim que, num belo serão, se bebeu, se comeu, se cantou e o Adriano já com muitos grãos na asa cantou esta "Trova do vento que passa" . Ele não cantava por aí além, ele declamava era muito, mas muito bem!
Bons tempos!
Adorei este teu post!
Agora vou ao blorganaizer :-)
Venho do Claras e ainda estou sem conseguir dizer nada à minha doce Marta.
Sobre a Lira? Uma das coisas que gosto muito de fazer é de cantar. Uma das canções era essa :-) Tinha um amigo que se comovia demais. Cantavam-na em cativeiro. É das baladas mais bonitas que eu conheço e há tantas, tantas, mas essa? É comovente!
Bom gosto o teu, o vosso, o nosso.
Já valeu a pena ter vindo aqui. Ganhei o dia!
Obrigada

Luís Maia disse...

Tens razão em relação ao Adriano, sobre a sua voz e a forma de dizer.
As baladas que se ouviam nesse tempo tinham a carga de saberem à liberdade, não eram apenas as palavras, era também o contexto.
Cantava-se os Vampiros, porque eles estavam lá, "Não há machado que corte a raiz ao pensamento", porque nos cortavam tudo o resto.
"venham mais 5 se o velho estica eu fico por cá".
Tantas, tanta coisa.